Um ERP não pode ser o freio de mão da sua empresa
Postado por Luis Adriano de Azevedo, Squad Leader and System Analyst, na Senior em 27/07/2020 em Artigos
O mercado de softwares de gestão empresarial é diverso, existe uma gama enorme de ofertas de soluções de ERP, por vezes ditas especialistas, que prometem atender ao cliente, impulsionando-lhe melhores resultados e são apresentadas, também, como parceiros essenciais para o crescimento das empresas.
Ocorre, ou certamente irá ocorrer, por conta do desenvolvimento orgânico e/ou estratégico do business, a necessidade de um comportamento de negócio não esperado no produto padrão, seja por alterações em processos já existentes ou implementações de novas rotinas. Logo que isso ocorrer, será possível perceber se o sistema é um parceiro, ou, às vezes, um “freio de mão” no crescimento da empresa que o contrata.
Em primeiro lugar, importa destacar alguns aspectos de como o ecossistema de desenvolvimento de software funciona no que se refere ao relacionamento entre empresa e software house no momento que se pede por uma alteração no produto. Geralmente tudo se inicia quando o cliente traz um problema a resolver para o fornecedor de software, demanda essa que é encaminhada para um backlog e priorizado posteriormente.
Todavia é importante e necessário refletir que empresas desenvolvedoras de software de gestão empresarial vivem um dilema econômico constantemente: elas têm demandas ilimitadas de seus clientes para recursos limitados de desenvolvimento.
Dessa forma, torna-se imprescindível elas decidirem o que irão fazer, ou não, de qual forma irão priorizar e a ordem de relevância, ponderando alguns fatores de decisão como, por exemplo, o atendimento a exigências legais, o desenvolvimento de implementações estratégicas com aderência a mais mercados, e outras de cunho interno.
Dissecando, pois, um pouco mais sobre essa relação entre empresas e suas fornecedoras de software, podemos imaginar um cenário em que uma indústria ou beneficiadora de determinado produto de agronegócio queira agregar valor a um item de seu portfólio. Imaginemos ainda que tal empresa deseje começar a pagar um adicional de qualidade ao produtor com o objetivo de melhorar a qualidade do insumo que é recebido e, consequentemente, o produto final, assim agregando mais valor a sua venda.
Desse modo, essa empresa apresentará para a sua fornecedora de software a necessidade de mudança em seu processo. Como já citado anteriormente, a demanda deve ir para o backlog e, no momento que é escolhido os itens para serem trabalhados pela desenvolvedora do software, caso não existam vários outros clientes também interessados na alteração ora solicitada, tal demanda acaba perdendo relevância para ser desenvolvida. No entanto, para a empresa que o solicitou, há relevância quanto a estratégia do negócio como também certa urgência.
É essencial, neste contexto, aprofundar a análise um pouco mais sobre alterações necessárias no software que a empresa utiliza. Para atender a seus anseios, será necessário implementar, ou alterar minimamente, um processo de avaliação de qualidade no processo de recebimento de matéria prima, exigindo também alterações no processo de faturamento, isso porque o preço pago ao produtor rural irá variar de acordo com a qualidade de entrega.
Assim, é possível inferir a presença de três processos macros: o recebimento, a avaliação de qualidade e, por fim, o faturamento. Além disso, vale mencionar alguns fatores relevantes como os critérios de avaliação de qualidade, os usuários habilitados a desempenhar as funções no sistema, os resultados de análises e as tabelas de preço a qual determinam o preço final a pagar ao produtor.
Nesse caso, um software ERP parceiro precisaria ser, ao menos, também programável pela equipe de TI da empresa contratante, pois tal mecanismo de personalização de tratamento das regras de negócio consegue trazer certa aderência a realidade efetiva do cliente.
Vejamos como funcionaria: durante o fluxo de recebimento de produtos, uma chamada de código externo se estenderia da aplicação principal. Entretanto, é importante ressaltar que nem sempre haverá sistemas personalizáveis de forma adequada, sendo necessário um exercício de ponderação sobre qual aplicação provê os meios para resultados mais assertivos.
Nesse sentido, é possível traçar um exemplo para contextualizar um cenário de integração limitada: imagine que um sistema só permita aferir e efetivar os resultados de qualidade no recebimento de matéria prima sem qualquer consistência justamente por estar fora da execução principal da aplicação; imagine também que certo critério de qualidade fosse condição necessária para impedir o recebimento da carga. Ora, é evidente que isso não ocorreria. Explorando ainda mais o cenário exemplo, considere que no momento de receber o produto será necessário apenas armazenar os resultados dos testes de qualidade, diferentemente do exemplo anterior, nesse instante sem consistências.
O produto sempre será recebido e depois o preço pago irá variar em função dos critérios avaliados. É admissível que pode existir apenas um formulário a ser alimentado com os resultados dos critérios de qualidade verificados. Contudo, no momento do pagamento ao produtor, como o preço será determinado pelos critérios de qualidade, não haverá como criar uma regra com base nos resultados anteriormente informados ao sistema para alterar o valor a ser pago ao fornecedor, o usuário precisará calcular o preço manualmente e informar os valores a aplicação, em todas as operações que fizer.
Diante do que foi discorrido é possível perceber a importância de ter um software de gestão que disponha de características de personalização que se adaptem a realidade do negócio. A personalização deve ser considerada na avaliação técnica de uma solução a ser contratada, afinal é um ativo intangível de alto valor e que deve ser por muito tempo um parceiro estratégico da empresa que o contrata.
Dessa forma, escolher bem um parceiro de software é fundamental para ser vencedor em mercados mais competitivos e que exigem mudanças estratégicas constantes para se diferenciar. Um fornecedor de software de gestão não pode ser o “freio de mão” no momento em que a empresa que o contratou decidir acelerar.
O artigo foi escrito com a colaboração de Eduardo Henrique Capelo Lima