Oportunidades de finanças embarcadas para segmentos não financeiros
Postado por Thiago Rolli e Gabrielle Hernandes, respectivamente, sócio de Consulting e sócia-diretora de Consulting da KPMG no Brasil em 16/01/2023 em ArtigosNo cenário atual de serviços financeiros, há muitas discussões sobre o conceito de finanças embarcadas (Embedded Finance) e como ele pode apoiar a entrada no segmento financeiro de empresas de outros setores. Para exemplificar essa questão, é possível considerar um varejista que oferece cartão de crédito próprio para seus clientes fazerem compras.
Esse varejista também pode oferecer a mesma extensão de crédito aos seus fornecedores com a antecipação de recebíveis, de forma inovadora e fluída. Neste caso, a empresa tem acesso a novos serviços, não somente o crediário, potencializa a principal cadeia de valor e melhora a experiência do consumidor.
O modelo de finanças embarcadas é uma oportunidade para varejistas, atacadistas, indústrias, cooperativas, produtores, prestadores de serviço e empresas de telecomunicações, entre outros, para a oferta de produtos e serviços financeiros sem intermediação de instituições financeiras.
Com a estrutura de finanças embarcadas, é possível utilizar mecanismos como APIs (Application Programming Interface ou Interface de Programação de Aplicação, em português) de empresas de segmentos variados, como e-commerces, plataformas de marketplace, provedores de serviços financeiros e produtos de backoffice com estrutura de tecnologia. É oferecida então aos clientes uma seleção de produtos financeiros, principalmente aqueles relacionados a meios de pagamento, como contas digitais, concessão de crédito, seguros e investimentos.
A premissa e o contexto que formam a base dessa oportunidade são o desenvolvimento de plataformas e a exposição dos serviços de maneira intuitiva, em que os aplicativos e o ecossistema de serviços são potencializados em uma experiência inovadora integrada às ofertas originais da empresa.
Acrônimos como BAAS (Banking as a Service) e CAAS (Credit as a Service) são exemplos de modelos de negócios que permitem a experimentação e validação de teses pelas empresas de origem não financeira. Estudo da Juniper Research prevê que, em 2026, o mercado de finanças embarcadas atingirá a marca de US? 138 bilhões, um aumento de 215% no volume de operações no período de 2021 a 2026.
A colaboração entre empresas que não atuam no segmento financeiro e instituições financeiras aumenta o potencial competitivo do mercado e a satisfação do consumidor, podendo ampliar a inclusão de clientes, proporcionar educação financeira, diversificar fontes de receitas, e reduzir custos de capital.
Um aspecto relevante é que o modelo de finanças embarcadas requer o cumprimento de diretrizes do Banco Central relacionadas com governança corporativa, controles internos, compliance, segurança de informação, privacidade de dados e proteção contra fraudes. A agenda propositiva do Banco Central, regulador do setor financeiro, em seu conceito BC#, tem calibrado os processos de regulação e de supervisão para ampliar a simetria de regras e modelos de negócios.
O modelo de finanças embarcadas tem potencial para gerar diversos casos de uso, possibilitando que empresas não financeiras desenvolvam novos modelos de negócios na oferta de serviços financeiros, como CaaS (Credit as a Service) e BaaS (Banking as a Service), facilitados pela utilização de APIs e de infraestruturas reduzidas com o apoio de prestadores de serviços de tecnologia.
Adicionalmente, em razão da criação de uma linha de serviços financeiros, também é necessário avaliar a estrutura societária e o modelo tributário atual da empresa para suportar a nova operação e alcançar maior eficiência tributária.
Empresas que disponibilizam novos produtos e serviços financeiros digitais aos seus clientes por meio do modelo de finanças embarcadas poderão apresentar vantagens competitivas no mercado financeiro tradicional, o que demandará alterações em sua cadeia de valor, investimentos em tecnologia, compliance, proteção de dados e jornada de experiência do consumidor.
Trata-se de uma oportunidade de nova fonte de receita e melhoria do engajamento de clientes no ecossistema das organizações, podendo potencializar novos caminhos e modelos de negócios no contexto de serviços financeiros.
Foto: Thiago Rolli e Gabrielle Hernandes, respectivamente, sócio de Consulting e sócia-diretora de Consulting da KPMG no Brasil