A IA está transformando todos os setores da economia global, impulsionando inovações e redefinindo o futuro do trabalho e da tecnologia

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Mais de dois anos se passaram desde o lançamento do ChatGPT, marcando um divisor de águas na popularização da inteligência artificial (IA). Transformando-se rapidamente de uma ferramenta experimental para um recurso indispensável em diversas áreas, a IA está cada vez mais integrada à vida cotidiana. Mas o que o futuro reserva? Como essa tecnologia continuará moldando o mundo nos próximos anos?

Segundo a Grand View Research, o mercado global de IA deve crescer a uma taxa impressionante de 37% ao ano até 2030. Além disso, um estudo da McKinsey Global Institute sugere que a IA pode adicionar aproximadamente US$13 trilhões à economia global até 2030. Para colocar esse número em perspectiva, é como se fosse acrescentado o equivalente ao PIB atual da Alemanha, a quarta maior economia do mundo, à economia global. Esse aumento de 1,2% no PIB global anual deixa claro: estamos diante de um acontecimento transformador.

“A IA está no centro de uma revolução que impacta áreas como saúde, educação, sustentabilidade e até o setor criativo. Soluções como a IA generativa permitem criar  conteúdos personalizados e inovadores em escala sem precedentes”, afirma o especialista em dados e professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e autor do livro  “Organizações Cognitivas: Alavancando o Poder da IA Generativa e dos Agentes Inteligentes”, Kenneth Corrêa.

35% dos trabalhadores brasileiros sentem desconforto em admitir uso de IA

Apesar do crescimento, nem tudo são flores. Muitas pessoas ainda hesitam em admitir o uso da IA no trabalho, temendo que isso seja visto como um sinal de incompetência ou preguiça. Um levantamento do Slack, realizado em parceria com a Qualtrics, revelou que 35% dos trabalhadores brasileiros se sentem desconfortáveis em informar seus gerentes sobre o uso dessa tecnologia.

Essa resistência não está desconectada da ausência de regulamentações claras. O recente processo do New York Times contra a OpenAI, que questiona o uso de conteúdo jornalístico em treinamentos de IA, exemplifica a urgência de diretrizes robustas. Uma pesquisa da Twilio indica que, embora 72% dos consumidores já esperem interagir com IA diariamente, 90% defendem regras rigorosas para garantir o uso ético e responsável da tecnologia.

Nada será como antes: setores impactados pela IA 

A inteligência artificial já está modificando profundamente diferentes setores, e as previsões para os próximos anos prometem avanços ainda mais significativos:

• Setor financeiro

Com a capacidade de analisar grandes volumes de dados, a IA está revolucionando a detecção de fraudes e a análise de riscos. Segundo a McKinsey, o impacto anual no setor pode chegar a até US$ 340 bilhões. Empresas como o Nubank já utilizam IA generativa para mitigar riscos em tempo real, aumentando a confiança dos clientes.

• Saúde

A tecnologia está permitindo diagnósticos mais precisos e rápidos. No Hospital Albert Einstein, redes de IA analisam milhares de prontuários simultaneamente, identificando padrões que ajudam na prevenção de internações em UTI.

• Área criativa e de mídia

Ferramentas como o Sora, da OpenAI, estão redefinindo a criação de conteúdos audiovisuais. No próximo ano, a geração de vídeos por IA será ainda mais acessível, transformando como consumimos e produzimos mídia.

O que esperar da inteligência artificial nos próximos anos?

Nos próximos anos, espera-se que a inteligência artificial alcance novos patamares, não apenas em termos de sofisticação técnica, mas também de integração ao nosso cotidiano. As inovações serão tão impactantes que a IA será parte integral da vida pessoal e profissional de todos, com uma gama de aplicações mais amplas e refinadas. O especialista Kenneth Corrêa, aponta seis tendências que irão guiar essa evolução:

1. Redes de Agentes Inteligentes (RAIs): o futuro da automação colaborativa

As redes de agentes inteligentes, sistemas autônomos projetados para realizar tarefas de forma proativa e interdependente, estarão mais integradas e sofisticadas. Ao invés de serem sistemas isolados que executam funções específicas, esses agentes irão interagir entre si para otimizar processos mais complexos. 

“Por exemplo, os escritórios de advocacia já estão utilizando uma rede em que um agente busca a jurisprudência relevante, outro escreve as petições e um terceiro analisa e organiza dados para o acompanhamento de processos. Essas redes estão permitindo que diversas tarefas sejam realizadas de forma simultânea e eficiente, sem a necessidade de intervenção humana constante”, explica o especialista. 

2. Multimodalidade avançada: a era da comunicação integrada

A IA multimodal é uma das grandes promessas para o futuro, ao combinar diferentes formas de dados – texto, áudio, imagem e vídeo – em uma única plataforma de interação. Isso significa que a IA conseguirá interpretar e criar conteúdos que envolvem múltiplos tipos de mídia, com uma fluidez e naturalidade nunca antes vista. A geração de vídeos a partir de textos, por exemplo, será uma realidade muito mais sofisticada e acessível.

3. Assistentes virtuais: a IA que entende contexto e necessidades

Assistentes virtuais como Alexa, Siri e Google Assistant estão prestes a passar por uma grande transformação. Com o avanço da IA, os assistentes virtuais se tornarão mais inteligentes e contextuais, entendendo melhor o que o usuário realmente precisa, em vez de apenas responder comandos diretos. 

“A parceria mais forte entre Amazon e Anthropic, por exemplo, visa tornar as interações mais naturais e intuitivas, com a tecnologia podendo compreender nuances emocionais, preferências pessoais e até mesmo prever o que será necessário em determinadas situações”, complementa Kenneth. 

4. IA em robótica: da indústria à vida cotidiana

A robótica está se tornando cada vez mais inteligente, com a IA sendo responsável por tornar os robôs mais autônomos e adaptáveis. No próximo ano veremos robôs não apenas em fábricas, mas em muitos outros contextos, como no auxílio doméstico e na assistência a idosos. A inteligência artificial permitirá que esses robôs se ajustem a diferentes ambientes e tarefas, melhorando a eficiência e a precisão de processos repetitivos e complexos.  

5. Serviços personalizados: a inovação antecipando suas necessidades

A personalização dos serviços será uma das grandes revoluções impulsionadas pela IA. A tecnologia vai além de simplesmente reagir às preferências do usuário; ela será capaz de antecipar as necessidades dos consumidores de forma precisa e proativa.

“A Starbucks já implementou sistemas de IA que preveem quando seus clientes costumam fazer pedidos e sugerem bebidas com base no clima, na hora do dia e no histórico de compras”, exemplifica Corrêa. 

6. Automação criativa: potencializando a criatividade humana

A inteligência artificial no campo criativo não tem a intenção de substituir os humanos, mas sim de amplificar suas capacidades. A automação criativa estará mais sofisticada e acessível, permitindo aos profissionais da área publicitária, de design e de produção audiovisual criarem conteúdos mais rápido e de forma mais eficiente.

O framework PINS (Palavras, Imagens, Números e Sons), recentemente publicado na Harvard Business Review, é uma ferramenta indispensável para a criação de campanhas publicitárias impactantes. Com o uso de inteligência artificial, esse modelo será ainda mais poderoso, permitindo que agências de publicidade integrem dados e insights de maneira estratégica e personalizada, otimizando a criatividade e a eficácia de suas campanhas.

“Ou seja, no próximo ano a inteligência artificial estará ainda mais enraizada em quase todos os aspectos da nossa vida, e os profissionais que souberem aproveitar essas inovações terão uma vantagem competitiva significativa. Com tantas inovações transformadoras, o desafio será garantir que a tecnologia seja usada de forma ética e responsável, promovendo um futuro onde humanos e IA coexistem e colaboram”, pontua o especialista.

“Estamos nos movendo para um futuro de organizações cognitivas, onde as capacidades humanas e a inteligência artificial se complementam para criar um novo paradigma de produtividade e inovação” finaliza.