Tecnologia, tributação e transformação: os eixos que vão definir o supermercado brasileiro

João Alberto Giaccomassi, comenta em seu artigo sobre as principais tendências para o setor supermercadista em 2025

Em 2024, o setor de varejo supermercadista no Brasil continuou a surpreender com sua capacidade de adaptação e crescimento, mesmo em um cenário de expectativas mais modestas. No começo do ano, a Tendências Consultoria previa um avanço de 1,9% para o setor, após um crescimento de 4,1% em 2023. Ainda assim, os supermercadistas responderam com ousadia: investiram em digitalização e inovações tecnológicas, buscando se alinhar às preferências dos consumidores e oferecer uma experiência cada vez mais prática, cômoda e conectada. Dados da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgada em novembro pelo IBGE, mostram uma aceleração das vendas no comércio brasileiro em setembro. O estudo destaca que, ao longo de 2024, o desempenho dos supermercados tem contribuído para o sustento deste crescimento, e que as vendas do varejo alimentar têm o maior peso no levantamento do instituto (55,6%).

Olhando para 2025, novos desafios já surgem no horizonte. Um dos principais temas para o próximo ano, sem dúvidas, é a Reforma Tributária, que traz à tona questões como o Imposto Seletivo, produtos isentos e itens com isenção parcial. Essas mudanças podem exigir adaptações rápidas dos empresários do setor.

Por outro lado, as inovações tecnológicas continuam avançando para otimizar a produtividade e a eficiência do segmento: desde sistemas de precificação inteligente até o uso de IA preditiva e soluções de autoatendimento.

Eficiência operacional

Depois de um período aquecido de abertura de novas lojas de supermercados, tenho observado um movimento dos empresários em reduzir ou frear esse movimento. Em contrapartida, neste momento, dedica-se uma maior atenção em otimizar a produtividade das unidades já existentes, para de fato melhorar a operação e aumentar a rentabilidade.

Segundo a Pesquisa de Eficiência Operacional ABRAS 2024, o segmento apresentou 98,13% de eficiência neste período, com uma queda de 0,08% em relação ao ano anterior. Mas o ponto mais preocupante do estudo é o aumento do índice da quebra operacional, que saltou de 56% para 59%. Fatores como danos físicos aos produtos, vencimento do prazo de validade, erros na manipulação e armazenamento das mercadorias e danos em equipamentos são os responsáveis pela perda de produtos durante o ciclo de operações, o tipo de prejuízo que nenhum supermercadista quer na sua loja.

Para combater esse problema, é importante investir em tecnologias que automatizam e digitalizam processos morosos e repetitivos, garantindo eficiência, qualidade e segurança nestas atividades. Um exemplo prático é a reposição e a conferência das gôndolas, trabalho que requer horas ou mesmo dias, mas que hoje pode ser feito com o auxílio de soluções de realidade aumentada que otimizam a fiscalização dos itens e de seus preços. Outras tecnologias como sensores IoT ou sistemas de gerenciamento de estoque em tempo real também apoiam na produtividade operacional, além de garantir a auditoria confiável da loja.

Estratégia de precificação

Sempre digo em minhas conversas por aí que o coração da estratégia de um supermercadista está em comprar bem. Para vender bem, ele precisa comprar bem. Mas, mais do que isso, é muito importante estar atento às estratégias de negócios, e isso invariavelmente passa pela precificação.

O uso de inteligência artificial (IA) para uma precificação inteligente está se tornando uma estratégia vital, já que a tecnologia permite o ajuste dinâmico dos preços, melhorando o posicionamento da marca e aumentando a competitividade na hora da compra. Essa abordagem ajuda a entender melhor o comportamento do consumidor e a responder rapidamente às flutuações do mercado, sem perder margem de lucro. 

ERP especializado

Hoje vemos um movimento de investidores, inclusive estrangeiros, em negócios supermercadistas brasileiros. E com muitos varejistas buscando atrair novos investimentos, a automação de auditorias contábeis é um item fundamental para garantir transparência e eficiência operacional.

Investir em sistemas de backoffice especializados pode parecer papo antigo, mas vejo no dia a dia que ainda existem supermercados que não aproveitam tudo que um sistema vocacionado pode oferecer. Um ERP especializado facilita a digitalização e o controle de todas as rotinas administrativas, melhorando a governança e o compliance do negócio.

Além disso, como já comentei, durante o ano de 2024 acompanhamos o debate em torno da Reforma Tributária no Brasil. E, ainda que não esteja totalmente concluída, os empresários sabem da obrigatoriedade em seguir as novas regras fiscais, que vão impactar diretamente nas operações do varejo. Nesse sentido, investir em sistemas especializados que simplifiquem e sejam eficientes para esse momento de mudanças é essencial para garantir conformidade e otimização fiscal, assim como garantir a continuidade da operação, especialmente no setor de varejo alimentar.

IA Preditiva aplicada à estratégia

Inteligência Artificial é o tema do momento e vai seguir como tendência em 2025. Falando de maneira mais específica, vejo com empolgação a aplicação da IA Preditiva no varejo supermercadista, com análise de dados e históricos operacionais que podem oferecer grandes vantagens na gestão de compras e estoques.

Este tipo de inteligência artificial pode ajudar o supermercadista a prever demandas com base em sazonalidades, por exemplo, garantindo compras no momento certo e ao melhor preço, enviando rupturas ou excesso de estoque, o que resulta em operações mais eficientes e redução de desperdícios.

Experiência do Cliente

O foco na experiência, como sempre, é fundamental. Investir em uma gama de estratégias é o caminho para atrair e fidelizar seu cliente. Muitos supermercadistas já investem em aplicativos e e-commerces, próprios ou de terceiros, que permitem que ele esteja onde o cliente está – regra básica para o sucesso de qualquer varejo.

Nas lojas físicas, o autoatendimento continua em alta. Mesmo com sua ampla implementação, ele ainda representa uma oportunidade para melhorar a experiência do cliente, oferecendo conveniência e reduzindo filas. Quer uma prova? Dados de uma pesquisa realizada pela Associação Paulista de Supermercados (Apas) apontam que 7 em cada 10 brasileiros priorizam self-checkouts para finalizarem suas compras. Ou seja: tendência que não pode mesmo ser ignorada.

Para 2025, a mensagem é clara: a tecnologia não é mais um diferencial, mas sim a essência do sucesso no setor supermercadista. A capacidade de adaptação e a busca constante por inovação serão os combustíveis para o crescimento e a consolidação das empresas em um mercado cada vez mais competitivo. Os investimentos em tecnologia no próximo ano não serão apenas uma questão de acompanhar tendências, mas de garantir a própria sobrevivência e prosperidade no novo cenário do varejo.